Otto Dix
(-Quero tanto ser
importante-)
Andar com dois mestrados
pela trela.
Falar mandarim enquanto
mastigo pizza prateada
e italiano com chau min de
ouro na boca.
Representar Beckett, Tennessee Williams, Juan Mayorga
numa cama de corcel
onde possa esperar que
Godot chame o desejo
sem parecer um animal
noturno com cio.
Ler a Bíblia, Vedas,
Alcorão, Tanakh e outros mais
para quando o pecado urgir
a absolvição seja
instantânea
e não entre no céu por
orifícios adversos.
Vestir etiquetas de marca
e não me constipar.
Morar em Peak
Road, Fifth Avenue, Knightsbridge
sem
me sentir o indigente sobre quem caiu o tecto de Deus.
Aprender
a colocar vírgulas e reticências no final das ruas
e
usar a semântica como passadeiras para peões.
(Não
pretendo chocar com a inteligência
nem
ser atropelado por ideias ou raciocínios).
Descer
aos confins do inferno
e
assar a raiz do pensamento nas labaredas de Dante
de
forma que as punições sejam uma “Divina Comédia”.
Cumprimentar
o trolha, o camponês, o feirante.
Passar
pelos seus pardieiros sem solidão nas janelas.
Os
filhos a crescerem à minha passagem
põem-me
um açaime para não morder as próprias canelas.
(A
importância que tenho foi arrancada do chão
pelo
acariciar dos vendavais que a vida persegue)
JFV
10/02/2016