Pintura:
Oswaldo Guayasamín
Manos de lágrimas
Oswaldo Guayasamín
Manos de lágrimas
Lágrimas
com cheiro a bafio
em
rostos desfraldados
não
são belas,
escorrem
por tempos roubados.
Acumulam-se
durante o ano,
nada
secretas.
Tornam
o mundo num enxoval
de
vida solteira.
São
olhos de naftalina que sofrem.
Que
infelizes
os
que nunca choram
mas
têm a persegui-los
essas
gotas que estupram os olhos.
não
gritam,
não
cantam,
mas
dão brado,
recebem
ovações
só
porque existem e estão secos.
(Todos
os dias são dias de corações mortos
e
pensamentos de pedra.)
Lágrimas
incendiárias são obscenas,
os
orgasmos são de cinza
e
espalham-se enquanto urdem prazer.
Chorem!,
quando estivermos de costas,
a
olhar o fogo de artifício que explode do avesso,
e
temos faúlhas nos olhos
--porque
se amam uns aos outros?
Gosto
de me sentir água.
Isso
sou eu que me embrulho no enxoval
que
é a vida
e
amo
e
repito as lágrimas.
(
A sua abundância não me enferruja os olhos.)
1/1/2016
JFV
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