quinta-feira, 18 de julho de 2013

PRECIPÍCIO



Pintura-Katie Black

A ausência que não cabe numa janela,
fez com que costurasse uma cortina nos olhos
e falasse com o que ainda há de mim.

A ausência que não cabe no lenço encharcado
de lágrimas que se inventam
quando o imenso tempo de insónia
esgota a existência.

(Pensava eu que a existência era só não fechar as cortinas dos olhos.)

Um choque, um espasmo, a escuridão.
Toda uma imaginação moribunda
que humedece o calor que temos por dentro.

A ausência que não tem conquistadores nem conquistados,
somente o nada que é o vazio,
e a transparência da cortina em carne crua
deixando ver no horizonte os instantes lentos
e enigmáticos da dor e do ódio
criando um precipício vertiginoso de eternidade.

Este desassossego que transporto...

Este desassossego que transporto
já não cabe em mim.
É subalterno alheio,
Disfarce em dor
Do que amo e acredito.

Tem um segredo:
Usa máscaras no peito.

O pior é equilibrar
Este desassossego
com o que imagino:
Um tapete de felicidade
Estendido no quente
Do sangue.

Extravaso com as mãos
A volúpia do tremor
E agarro ainda mais máscaras
feitas de nada.

Ainda hei-de conseguir
Não estar cansado
E andar de manhã pelo sossego
Com o rosto destapado.

JFV

18/07/2013

Pintura_Lucian Freud