sexta-feira, 29 de março de 2013

A paisagem mudou...


Painting by Leonid Afremov

A paisagem mudou, 
chegou a chuva com gente dentro 
em direcção a uma enchente de silêncio. 
Março abre-se aos noivos das águas. 
Aqui e agora anunciam-se casamentos de pensar 
e divórcios de tempestade. 
O carrossel da natureza 
evitará que saiam pessoas em procissão de náufragos.
Restarão ancinhos-sibilantes a erguerem mais dunas 
onde se possa calmamente sacudir o tempo.

Enquanto o sol se mantém secreto
vou decorar a árvore de natal!

JFV

quinta-feira, 28 de março de 2013

Nasci de um vento sem metas



 Pintura_Guilherme Parente

Nasci de um vento sem metas

Voei…
 
Alimentaram-me penas de poetas

cresci, amei...

Pais de páginas de ninguém
deram-me ninhos de folhas
por preencher.

Vivendo sem as palavras
Fiquei no vento
órfão de um livro infértil.

Ah, vida...

a minha foi vivida

quando a não tinha!

JFV

segunda-feira, 25 de março de 2013

ANO NOVO



Relógios de encontros,

Amor proibido,

Ponteiros de mentiras,

Partos de confetis e enganos,

Doze badaladas,

Doze dores,

Um ano de máscaras,

Um campanário no peito,

Champanhe e serpentinas,

Amores em passas,

Um sorriso despercebido.

Doze desejos de sossego,

Encontros sem ponteiros,

Doze badaladas num dia só,

Sem co®pos partidos,

Bebedeiras de sonhos,

E gretas de claridade

Iluminando os nossos beijos.

Sem anos, horário ou etiquetas,

Amor, ri junto comigo,

Os anos não passam por nós.

08/05/2009
JFV

sábado, 23 de março de 2013

Não deixes que parta,meu amor




Não deixes que parta,meu amor.
Ensina-me a razão
do querer estar
nem que seja
onde o silêncio reside.
Preciso ficar.
Calamos nossas bocas
falamos com o olhar.
Perto de ti sei
como te reconquistar:
Não andando na vida
de pernas para o ar!

JFV

terça-feira, 19 de março de 2013

Querem que a veja...

 Pintura: On my way_Esau Andrade


Querem que a veja...
Fazem de mim o miradouro
Do tempo que deixei para trás.
Foi-me oferecida pelas águas
Que ao rebentarem me levou
Por cascatas,
Por vezes tortuosas,
Por vezes calmas,
Sempre em concordância
Com o rumo das ondas que batem
No desarrumo de que são feitos os momentos.
Pais e mães de circunstancia
Educaram-me para que a visse
Com antecedência.
Nada disso,
A vida nunca está completa,
Nem se avista ao longe.

JFV


19/03/2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

Voltei de onde não parti



Voltei de onde não parti.
Da vida de poeira
azul
longe dos olhares dos outros.

Fundi-me no
mar,
Fui direito à escrita
que cintilava
num manuscrito
dentro de uma garrafa
que dizia:

- Esvai-te entre o azul,
o nada
e nada.

Ladeado pela luz
que atravessa o mundo,
emerge do mar do tudo feito
que a indiferença,
lá fora
não te apagará a cor.

Espalhei a poeira
e poucos deram por isso.

JFV

quinta-feira, 14 de março de 2013

ALEGRIA

 Joy to the World_Emelisa Mudle





A alegria
tem voz de gente
guia-nos
entre astros e não teme o medo
ao iluminar as sombras.

É dinamite a explodir
as trevas virando-as do avesso.

É o sonho a sorrir
sem nunca adiar a viagem
pela Via Láctea dos olhos.

É a esperança que salta
de planeta em planeta
e entre nós aterra
porque temos (o) Espaço no coração.

JFV

14/03/2013

quarta-feira, 13 de março de 2013

sem peso na alma

Marc Chagall


Tão alegremente
me deixo intocado
que canto a poesia
da primavera.
Assim respiro
sem peso na alma
e olho para a vida
sem o torpor
cruel,
que seca a flor!

JFV

sábado, 9 de março de 2013

LUSCO-FUSCO

 dali-CrepuscularOldMan

O dia leva-me a sombras que quase já não o são
de tão envergonhadas pela noite que se aproxima.
Não gosto do lusco-fusco,
nem da sonolência que provoca.
O dia é tímido perante a noite,
escapa-se pelas bermas do meu sono
e entra pelos lençóis do pensamento onde me deito.
Não o arrumo há dias,
está amarrotado pelas constantes viragens dos sentidos.
Não há meio de o conseguir passar a ferro,
nem sei se o pretendo deitar numa cama
onde entram noites sem nome próprio.
Já tentei dar nome às noites,
são mais de mil e uma,
demais para o meu cérebro breu.
Xerazade conta-me histórias
mas tocam chocalhos na minha mente de quarto minguante
e só recordo o quanto os deuses são injustos
por me fazerem perder a visibilidade das rugas
que os lençóis deveriam ter quando se agita a minha insónia
e me transformam num vaivém das coisas irreais.
Perco o discernimento de quando é tarde ou cedo.
Reinvento de como sentir o dia
sem me submeter ao caminho que o luar me estende.
Preciso de ver sombras sem sonolência,
Preciso que o lusco-fusco perca a timidez
e me devolva o ferro de engomar,
os dias e os sentidos.
Reparo: fez-se noite cerrada!
Preciso de sobreviver...onde está o interruptor?

JFV

As mãos sujas de terra




O berlinde rola
até ao buraco cavado.
Não entra.

O abafador aprisiona-o.

Crente que está só
O berlinde chora.

As mãos sujas de terra
chegam.

Acalma-o
descendo ao chão,
secando as lágrimas
que rolavam.

Tapando o buraco.
Destapando a amizade.

As mãos se limparam.
O abafador nunca mais se viu.

JFV

quarta-feira, 6 de março de 2013

SERENO






Ernest Descals


Sereno
Desbravo a sorte de ter tido a sorte
De te rever no Bar
Onde os copos são receptáculos de amores
Entornados
Sem protecção.
A sorte de ter tido a sorte
De encontrar uma cadeira perto de ti
E de te amar em tragos.
Do nada um empregado
Trouxe o teu nome na bandeja.
Uma infinda voz
Ressoando pelo peito
Adormecendo sentidos e inexactidões,
Fez do entorpecimento da vida
O que se pretende de melhor:
A calma do pousar na mesa do Bar
Um amor inexistente
Apenas porque é verão
E o calor alucina-me.
Sereno
Busco a fonte mais próxima
E desdigo a sorte de nada se ter passado.
De te ter bebido
Convencido que estávamos em Agosto.
Dezembro demora a passar.
Sereno
Vou-me recostando na vontade de amar.
A ser somente uma versão revista de outros calores.
Sorte a minha poder escrever
Com a tinta do teu suor de Inverno
Sobre a mesa onde o empregado nos saúda diariamente.

JFV

segunda-feira, 4 de março de 2013

Olhos c(S)errados





Madruguei cedo.
De olhos c(S)errados,
Vi por dentro da transparência
As redes do silêncio abraçadas.
Respiravam mar.
Suavam a conta-gotas
Pérolas de opressão.
Uma sombra de perfume
Perfurou-me as narinas
Com um piercing de amor.
Nada que a natureza
Não cicatrize.
Nem as pálpebras
Amortalhem.

Madrugar cedo
De olhos c(S)errados
É como descobrir
Na areia palavras velhas
Acarretadas pelas águas
De um mar invertido.

JFV






Espreitam palavras por janelas




Espreitam palavras por janelas.
Frases que me chamam
e amedrontam.

Preciso do sol das palavras
a mexerem-se nos lábios,
sem ruído,
levitando pela brecha
da sombra.


JFV

O JOGO DA VIDA




Cada vez mais "nos matam"!!!

O JOGO DA VIDA

Ontem entrei na taberna.
Sentei-me numa mesa quadrada, dei as boas tardes aos três parceiros. Pedi uma mini, acendi um “Português-Suave”, deram cartas, tinha três de naipe, altas, joguei. Perdi!
Hoje entrei na taberna.
Sentei-me numa mesa redonda, dei as boas tardes aos dois parceiros. Pedi uma mini, acendi um “Português-Suave”, dei cartas, tinha duas de naipe, baixas, joguei. Ganhei.
Amanhã entrarei na taberna.
Sentar-me-ei numa mesa rectangular, darei as boas tardes ao meu parceiro, pedirei uma mini, fumarei um “Português-Suave”, daremos cartas, terei uma de naipe, nem alta nem baixa, jogaremos. Empatarei.
Depois de amanhã entrarei na taberna.
Sentar-me-ei num banco, silenciarei a voz, pedirei uma mini, fumarei um “Português-Suave”, darei cartas e jogarei ao solitário.

JFV

sábado, 2 de março de 2013

Pecado (pouco) Original

Ciúmes, eu?
Por te amar deitado
sobre o punhal
do meu desejo
de instantes?
O teu corpo
É meu.
A tua alma, não!
Dizes ao mundo
Os nossos desencontros
O teu desgosto
De não te pertencer.
Amar-te é
Cativeiro.
É ilusão difusa
Desconforto combalido
Em convicção.
Ciúmes, eu?
Da minha loucura, talvez.
Sei que me perdoas
E voltarás a deitar-te
Comigo
No fio do punhal.
Afinal,
O meu corpo é teu.
A minha alma?
Tens de a conquistar
Cortando-me
O desejo de instantes.

JFV