dali-CrepuscularOldMan
O dia leva-me a
sombras que quase já não o são
de tão
envergonhadas pela noite que se aproxima.
Não gosto do
lusco-fusco,
nem da sonolência
que provoca.
O dia é tímido
perante a noite,
escapa-se pelas
bermas do meu sono
e entra pelos
lençóis do pensamento onde me deito.
Não o arrumo há
dias,
está amarrotado
pelas constantes viragens dos sentidos.
Não há meio de
o conseguir passar a ferro,
nem sei se o
pretendo deitar numa cama
onde entram
noites sem nome próprio.
Já tentei dar
nome às noites,
são mais de mil
e uma,
demais para o meu
cérebro breu.
Xerazade conta-me
histórias
mas tocam
chocalhos na minha mente de quarto minguante
e só recordo o
quanto os deuses são injustos
por me fazerem
perder a visibilidade das rugas
que os lençóis
deveriam ter quando se agita a minha insónia
e me transformam
num vaivém das coisas irreais.
Perco o
discernimento de quando é tarde ou cedo.
Reinvento de como
sentir o dia
sem me submeter
ao caminho que o luar me estende.
Preciso de ver
sombras sem sonolência,
Preciso que o
lusco-fusco perca a timidez
e me devolva o
ferro de engomar,
os dias e os
sentidos.
Reparo: fez-se
noite cerrada!
Preciso de
sobreviver...onde está o interruptor?
JFV