sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Não se pode descansar


Tenho os braços cruzados,

E o alambique apagado,

Oiço Sabina e correm-me,

Sons pelas veias.

Palavras pelos sentidos,

Duras como as armas,

Que nos apontam

À triste forma de vida.

Soam tiros directos à revolta,

Que braços são estes

Que cruzados nada fazem?

Que bruma é esta

Que não nos permite

Enxergar como a vida...

É um alvo?

Por vezes, triste

Por vezes, alegre.

Por vezes coisa nenhuma.

"Magdalena" encostada

A um candeeiro de cigarro nos lábios.

Insegura de um encontro pago.

Os milagres, mesmo os de amor

Dão lucro ou prejuízo?

Não se pode descansar,

Tenho os olhos abertos,

E o alambique apagado.

Oiço Martírio e contínuo

A injectar som nas veias.

Palavras que ferem,

Duras como as armas,

Que aterrorizam

Até as alegres comadres,

Juntas numa esquina do presente,

Recebem notas que não pagam nada.

Que olhos são estes

Que abertos nada vêem?

Que bruma é esta

Que não nos permite

Enxergar que a sorte

Não bateu à porta?

Por vezes triste,

Por vezes, alegre,

Por vezes coisa nenhuma.

“La bien pagá” encostada

A um muro de murros.

Segura de que as pernas

Não serão o escudo da (má) vida.

Nem os milagres,

Mesmo os de amor,

Darão lucro!

Quando, finalmente,

Tentamos descansar,

Alguém dispara coisa nenhuma.

JFV

5 comentários:

  1. Caro Amigo Jose' Vicente,
    Cheguei aqui pela mao da minha Maninha e SUA AMIGA,ANA! E, devo dizer que em boa hora aqui vim pois fiquei logo encantada e emocionada com este extraordinario POEMA!Ele contem todos os cambiantes que eu aprecio em poesia moderna e, LIVRE! Tem muito a ver com o meu modo de sentir e encarar o POEMA no sec. XXI. Contudo, eu sou fa (coloque o til, por favor!:))incondicional dos NOSSOS MAIORES que vai de Camoes a Fernando PESSOA passando por FLORBELA e...tantos outros! TANTOS OUTROS (Aleixo, por exemplo, Teixeira de Pascoaes e... enfim, precisava duma lista similar as paginas amarelas para lhe dizer de quantos eu GOSTO E AMO, isto so' em lingua Portuguesa!
    Bom, a msg ja' vai enorme e eu ainda nao disse o principal que e'PARABENIZA'-LO em duplicado:pelo belissimo POEMA e pela a abertura do BLOG e, por favor, nem pense em fecha'-LO!
    Aceite meu abraco amigo e se me permite deixo aqui outro para a MINHA MANA! :)

    Heloisa B.P.
    [que tambem atende por Sabina.]:)

    ResponderEliminar
  2. Heloisa,
    que surpresa agradável e honrosa tê-la como seguidora. Este blog existe por "culpa" da mana que me incentivou a publicar. Vou tentar não a desiludir(muito) com os rascunhos que vou pondo por aqui. Obrigado pelo comentário elogioso, ao qual não sei como responder já que não me tenho como poeta ou coisa que o valha. E não, não é modestia,é mesmo incapacidade de avaliar o que escrevo. :)

    Abraço amigo,

    JFV

    ResponderEliminar
  3. SORRINDO!
    E, caro amigo, a honra e' minha em me favorecer com Sua AMIZADE!

    E, que optimo que a minha Maninha e' *CULPADA* por "empurra'-lo" a fazer tal *PLANTACAO de FLORES*****!

    UM OPTIMO DOMINGO!

    H.

    ResponderEliminar
  4. Sem palavras, Zé Vicente... É um murro no estômago, este teu poema. Um tiro, se quisermos ser precisos, disparado lenta e progressivamente até ao impacto, esse belíssimo e poderoso final:
    "Quando, finalmente,
    Tentamos descansar,
    Alguém dispara coisa nenhuma."

    Tão doridamente belo...



    ResponderEliminar
  5. Obrigado, amiga. Levamos tantos "tiros" no estômago durante a vida, que me pergunto até quando aguentaremos sem fazer uma "endoscopia" :)
    Beijos

    ResponderEliminar