Circus-CHAGALL
CIRCO
Não me sobram os amigos,
Nem amores.
Tenho os ensinamentos do passar das décadas.
Uns e outros cada vez mais firmes.
No fundo do desgosto,
Na intermitência das distâncias.
Chegam por portas dentro do peito
Dos olhos
Da pele.
Desfilam numa pista de carne
Porque os domadores estão distantes das minhas jaulas
E das grades do meu corpo.
Sou o palhaço prestes a ficar sem o nariz vermelho
No circo de Inverno,
No vai e vem no trapézio dos afectos.
Na pista molhada de sonhos
Exercitam-se novos amigos
Novos amores
Prestes a tornarem-se ilusionistas do abstracto.
A tenda está montada.
Vendem-se ingressos de idas e regressos
Assistam!
O palhaço vai vir do luar,
O trapezista cair na inexistência
Da rede das preces,
O ilusionista tirar-me-á da cartola
Dos solitários.
Fiquem!
Os amigos e amores, chegaram.
Contorcionistas de almas encontradas
Acrescentam o meu nome aos seus
Momentos de aurora.
Não sobram muitos dias de Inverno
Ao peito
Aos olhos
À pele
Para que na carne fique eternamente gravada
Os fragmentos da solidão de um circo
Que se odeia e ama!
JFV
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