sexta-feira, 2 de outubro de 2015

desadorna-se o mundo



 Banco de refugiados - Banksy

 
Para ti, Ana Vassalo

Há duas realidades:
A de uns- os felizes-
e a dos outros- os despidos-
Os felizes têm vidas gourmet,
cafés e restaurantes assentes em estacas zero
e não pensam na fuga.
Evitam-na enquanto houver economistas
e a maneira excel  como veem a humanidade.
Têm as mãos ocupadas, a mente barricada,
os corações parados e os olhos enxutos.

Para eles há o mar sem fundo, fronteiras demarcadas e religiões derretidas.
As ondas, a liberdade, as crenças e a leveza do olhar são enxofre que os intoxica.

Zaatari, Boynuyogun, Calais, Lesbos e Chios
são nomes de casa de passe
com meninas-mulheres a taparem o rosto com cinto de ligas.
(Infectas as mentes de fraque e cartola)

Os despidos têm o mar que não cumpre rotas,
fronteiras que bloqueiam destinos,
orações ditas por lábios sem gula
e não sufocam o sonho
(mesmo que a morte esteja ali à frente).
Esquecem o nu a que chamam sobrevivência
e tremem,
não de frio mas da incerteza de terem futuro.

A força que ainda os abraça
é do tamanho da inutilidade humana.
E enquanto não descansam,
desadorna-se o mundo.


JFV

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