terça-feira, 9 de abril de 2013

Labaredas de um país







Nasci com o suor da ditadura e fizeram-me inferno
e mil labaredas desenharam-me a alma
no incêndio da vida.
Ardi na alegria de um diabo invisível
que vi um dia
quando a liberdade ainda era uma visão longínqua
mas me servia de guia.
Os anos tornaram abjecto um corpo
mal aproveitado
e que berrou por um duche frio
e um vento vagabundo
que refrescasse a nudez das borboletas
que voavam na encruzilhada
de um peito onde o amor
e a esperança ainda tinha pólen,
e mistério para desvendar.


Pobre suor que escorreu pelos calaboiços da realidade,
alagando um país, só porque tinha olhos de ver
e não queria os escombros do povo
a servirem de lenha na fogueira onde o diabo era acendalha.

Nasci, mas não quero morrer a cheirar a esse suor,
nem que o meu corpo volte a sentir as labaredas
de um país que os diabos, agora visíveis, estão a incendiar.


Apaguem essa fornalha,
ou restarão só cinzas!

JFV


8-04-2013

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