sábado, 2 de janeiro de 2016

ÁGUA FORTE



 Pintura:
Oswaldo Guayasamín
Manos de lágrimas

Lágrimas com cheiro a bafio
em rostos desfraldados
não são belas,
escorrem por tempos roubados.
Acumulam-se durante o ano,
nada secretas.
Tornam o mundo num enxoval
de vida solteira.
São olhos de naftalina que sofrem.

Que infelizes
os que nunca choram
mas têm a persegui-los
essas gotas que estupram os olhos.
não gritam,
não cantam,
mas dão brado,
recebem ovações
só porque existem e estão secos.
(Todos os dias são dias de corações mortos
e pensamentos de pedra.)

Lágrimas incendiárias são obscenas,
os orgasmos são de cinza
e espalham-se enquanto urdem prazer.
Chorem!, quando estivermos de costas,
a olhar o fogo de artifício que explode do avesso,
e temos faúlhas nos olhos
--porque se amam uns aos outros?

Gosto de me sentir água.
Isso sou eu que me embrulho no enxoval
que é a vida
e amo
e repito as lágrimas.
( A sua abundância não me enferruja os olhos.)


1/1/2016

JFV

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