domingo, 20 de janeiro de 2013

Duelo






Duelo

Acerto de contas:
Bang...Bang...

Dois tiros nos separam.
Um disparado pelo asfalto onde nos sentámos
enquanto crescia a mentira,
outro...
um tiro perdido
vindo do cano da lama
moldou a obscenidade
numa rua de traições.
Os transeuntes passam adiante
sem reparar em como o fuzilamento
a que nos expusémos
fizeram dos olhos e do coração
um tunel sangrento
por onde as balas do desgosto
penetram e fazem morrer
o sentido da vigília que preferíamos
quando o que implantámos
foi a nossa submissão
ao não sentir a verdade.

Acerto de contas:
Bang...Bang....

Dois tiros nos separam.
Fui atingido pelos avisos sem o saber,
...tu pelo desejo de incendiar a libido.
Implacáveis os transeuntes continuaram a passar
indiferentes ao choro que marcava o compasso
sangrento de um coração a bater.
Sinto ainda o cheiro a pólvora
saindo dos poros da vida
que entregámos ao nada de ninguém
para satisfazer os corpos
que se fizeram bandidos na relação.
Levantámo-nos...
Costas com costas...
lágrimas nos olhos...
caminhámos em sentido inverso,
voltámo-nos quando ouvimos as últimas batidas
do coração abandonado no asfalto...
Bang...Bang...

Afinal,
o acerto de contas
é tão frio como a prisão
onde encarcerámos o amor.

JFV

15/01/2013



Pintura: CORNEILLE

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