Num 5º andar com vista para o mar.
Perto do principio do mar.
Ainda haverá à porta o teu lugar de
estacionamento.
Ainda haverá a escada de pedra, suja
da caliça das paredes, subida por nós sem darmos conta de quantos
degraus tem, tal a sofreguidão de chegarmos ao quarto.
É uma casa nova já a necessitar de
obras, assim como o nosso amor rejuvenesce, a casa erguer-se-á com o
contacto do nosso desejo.
Ainda haverá a mesinha de cabeceira, o
candeeiro cambaleante desligando-se a uns pés inquietos.
Ainda haverá beatas no cinzeiro ao
lado de um fio de ouro e de um relógio dos chineses, sem pilhas. Não
marca as horas porque as horas as utilizamos sem contar…
amadamente!
As almofadas beje e laranja atiradas ao
chão conjuntamente com os cobertores numa mistura cromática.
(A casa ainda é fria em Março).
Ainda haverá calças, camisolas,
sapatos, roupa interior, deixadas não se sabe onde. (Felizmente o
quarto é pequeno e os esconderijos poucos).
As palavras de amor, mesmo as mais
grosseiras estão nos nossos ouvidos, soam a uma viagem começada.
Não sabemos como e porque começou…
Dissemos que ficaríamos para sempre,
não dissemos quando o sempre chegará.
Duas, três semanas?
Um ano?
As nossas rugas terão o mesmo
significado?
O nosso corpo terá a mesma
importância?
A tua beleza decerto continuará
intacta!
No tempo que não sabemos quanto,
mereces ouvir palavras de amor… na ausência.
Deixa lá!
Quando chegar, só, ao 5º andar, tenho
a nossa história. Parte da nossa história.
Entrarei, abraço-me… sei que
estiveste aqui!
Ainda haverá a porta por onde sairei à
procura da primeira cerveja. Até à terceira pergunto-me quando te
terei de novo em casa, no quarto, de vires até mim.
De esperar por ti?
Haverá sempre a casa das recordações,
na mesinha de cabeceira uma fotografia imaginária, tua, a sorrir,
com a mão esquerda na face a desafiar-me para te acompanhar ao outro
lado da moldura.
Levaste o fio de ouro, ficou o relógio
dos chineses já com pilhas, diminuindo o tempo.
À oitava cerveja, já estou do outro
lado da moldura acompanhando-te, respondendo aos apelos da solidão
Deixei de beber!
Agora espero que o telemóvel toque,
anunciando que não estou só nem necessito de tropeçar em latas de
cerveja vazias nem olhar para umas escadas onde a caliça se amontoa
para dizer:
Há momentos felizes!
Ou não?
JFV
Ia jurar q já tinha comentado este post, mas já vi q troquei as mãos.
ResponderEliminarBelíssima, forte, tocante, a tua prosa, como sempre. Texto poderoso, q mexe a sério com o leitor - comigo, pelo menos.
Parabéns, uma vez mais. Beijo, amiguinho.